Edição 31,
Bom dia Cara Leitora,
Já te perguntaste se é mesmo possível amar todas as partes do teu corpo?
Confesso que, nos últimos tempos, tenho refletido muito sobre isso. A ideia de que devemos amar cada parte de nós mesmas pode soar inspiradora… mas também, por vezes, distante da realidade. Afinal, crescemos rodeadas por mensagens que nos ensinaram a olhar para o nosso corpo como algo a corrigir, a melhorar, a moldar. É aqui que entra o movimento da positividade corporal.
Este movimento surgiu nos anos 60, com mulheres negras nos Estados Unidos a reivindicarem direitos iguais também no que dizia respeito à forma como os seus corpos eram vistos e representados. Mas foi sobretudo nos anos 2010 que ganhou força nas redes sociais, como resposta à pressão estética imposta por padrões inalcançáveis. A sua proposta? Que todas as pessoas, independentemente do seu peso, forma, cor de pele, ou capacidades físicas, merecem sentir-se bem com os seus corpos.



Mas atenção: a positividade corporal não nos obriga a olhar ao espelho todos os dias com entusiasmo. O amor pelo corpo nem sempre se traduz num sentimento constante de aceitação ou orgulho. Às vezes, é apenas um compromisso de respeito. Um esforço para parar de lutar contra o que vemos. Um passo em direção à reconciliação com a nossa imagem.
É importante também reconhecer que há dias mais difíceis. E tudo bem. Amar o corpo não tem de ser o destino final. Há dias em que a roupa não assenta como gostaríamos, em que nos sentimos distantes, em que o desconforto fala mais alto. Isso não invalida o progresso. Isso não apaga a tua coragem em desconstruir tudo o que te ensinaram sobre como deverias ser.
Nesses dias, chega-me um outro conceito: a neutralidade corporal (body neutrality). Ao contrário da positividade corporal, que nos convida a amar o corpo, a neutralidade corporal propõe um descanso. Um espaço onde não é preciso sentir amor ou orgulho pelo corpo, apenas aceitar a sua existência com respeito. Em vez de focarmos a nossa energia na aparência, deslocamos a atenção para aquilo que o corpo faz por nós. Respirar. Caminhar. Sentir. Permitir-nos viver.
Por isso, talvez a pergunta inicial precise de ser reformulada. Em vez de “é possível amar todas as partes do meu corpo?”, que tal:
Como posso tratar o meu corpo com mais gentileza, mesmo quando não gosto de tudo o que vejo?
Algumas estratégias que podem ajudar:
Muda o foco da aparência para a funcionalidade: em vez de te perguntares “gosto do aspeto das minhas pernas?”, pergunta: “o que é que elas me permitem fazer?” Talvez seja caminhar, dançar, subir escadas - honra isso.
Cuida do teu corpo como cuidarias de alguém que amas: mesmo que não te sintas bem com ele num determinado dia, ainda podes dar-lhe descanso, comida, conforto, movimento.
Faz uma limpeza nas redes sociais: segue pessoas com corpos “reais”, diversos, que te façam sentir menos sozinha e mais representada. E silencia conteúdos que alimentem comparação, culpa ou insatisfação.
Veste-te para o conforto, não para o espelho: não é preciso caber na roupa, a roupa é que tem de servir a tua realidade. Usar algo confortável pode mudar completamente a forma como vives o teu dia.
Pratica o diálogo interno compassivo: quando notares uma crítica (“estás horrível”, “ninguém te vai achar bonita assim”), experimenta responder como responderias a uma amiga: “Hoje estás a sentir-te em baixo, mas isso não define o teu valor.”
Permite-te não ter uma opinião sobre o teu corpo: nem positiva, nem negativa. Apenas estar. Apenas ser. Nem tudo precisa de ser comentado, avaliado, julgado. Às vezes, a paz mora no silêncio.
Sei que este tema é muito mais profundo do que aquilo que cabe num texto. Quando se passa anos em luta com o próprio corpo, nada disto é simples e não tem de ser.
Não escrevo isto para que escolhas um “lado”, seja o da positividade ou da neutralidade corporal. O mais importante não é o rótulo que colocas, mas sim a forma como te tens vindo a relacionar com o teu corpo e a cuidar dele.
É um caminho. Com altos e baixos. Com dias em que parece mais fácil, e outros em que parece impossível. E está tudo certo. Nem sempre conseguimos fazer este percurso sozinhas e é aí que o acompanhamento faz toda a diferença.
Se sentires que este é o momento de começar a olhar para o teu corpo com mais compaixão e menos julgamento, estou aqui para te acompanhar.
Recomendações random:



Acho que já deu para perceber que por aqui andamos com muito tempo livre… Em breve revelo porquê! Mas posso dizer que estou super entusiasmada com o mês de julho, vêm aí novidades muito boas e mal posso esperar para partilhar tudo contigo!
“A Mulher no Andar de Cima”, de Freida McFadden: sim, esta senhora vale o hype! Demorei a começar e, honestamente, achei que a história estava a andar devagar… até que, de repente, começou tudo a acontecer e já não consegui largar o livro. Li-o em menos de uma semana e tirou-me oficialmente da minha reading slump. A sério, recomendo.
E quando eu achava que já tinha dado tudo o que tinha para dar às séries dos anos 2000… aparece “Chuck”. Eu nunca tinha ouvido falar desta série, mas o meu marido disse que marcou a adolescência dele. E aqui estou eu, novamente, a ver uma série comedy-action dos anos 00’, com agentes secretos e missões. Eu nem acredito que vou escrever isto, mas… a forma como o Chuck Bartowski olha para a Sarah é qualquer coisa. Muito fã das personagens, mesmo.
Sims 4. Sim, estou ““viciada””. E sim, acho que a minha mãe lê a minha newsletter e está a revirar os olhos com esta recomendação. Mas os Sims fizeram parte da minha infância e adolescência. Lembro-me de um verão em particular: jogava todos os dias e comia pão de forma com Nutella. Até hoje, se comer Nutella, sou imediatamente transportada para esses dias. A comida também tem destas coisas, não é? Uma capacidade afetiva que nos liga a memórias com uma força inesperada.
Reflexão final: e se a forma como tratas o teu corpo nos dias difíceis dissesse mais sobre a tua relação contigo do que nos dias em que tudo parece bem?
Podes sempre responder a este e-mail ou falar comigo no Instagram, estou mesmo deste lado! 💌
Espero que esta edição te tenha inspirado a olhares para o teu corpo com mais respeito, leveza e compaixão. Porque mereces viver em paz, não só com a tua imagem, mas contigo mesma.
Com carinho,
Nutricionista Sara Timóteo
CP 5188N | E163696